O sexto dia da criação e a salvação dos casais de animais na arca de Noé

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Livro Teoria da História  (Art. 38, 3.6.1., p. 255-259) www.tribodossantos.com.br

    O autor da Teoria da História a expôs subdividida em duas grande partes: Sistematização Teórica e Verificação Empírica. Na Verificação Empírica, o simbolismo dos “casais de animais” denota, por um aspecto, a noção de “reprodução” (casais), e por outro aspecto, a noção da dimensão mínima possível e necessária para essa reprodução. Esse simbolismo foi aplicado pelo elaborador do texto em tela.

    O simbolismo do casal de animais foi inspirado em outro simbolismo, que se apresenta na primeira parte (Sistematização Teórica: Gn 1-2, 1-4-a) da Teoria da História:[1]

    “Deus disse: ‘produza a terra seres vivos segundo a sua espécie: animais domésticos, répteis, e animais selvagens, segundo a sua espécie’. E assim se fez. Deus fez os animais selvagens segundo a sua espécie, os animais domésticos igualmente, e da mesma forma todos os animais, que se arrastam sobre a terra. Deus viu que isto era bom…: foi o sexto dia (os grifos em negrito são nossos)” (Gen 1, 24-25, 31-c).

   Tais “animais” representam instituições sociais (estruturas permanentes e outras eventuais), que tiveram gênese no 5° dia da criação “ST” (Sistematização Teórica) (Cf. Gn 1, 20-23: aves, monstros marinhos, etc.). Porém, essas instituições se tornaram mais complexas e se alicerçaram, no 6° dia da criação ‘ST” (Sistematização Teórica). Ou seja, tornaram-se mais complexas a partir do período sócio-histórico egípcio chamado Pré-dinástico recente ou Época pré-tinita. Período este que corresponde ao 6° dia da criação “VE ( na Verificação Empírica), e que nesta outra parte da Teoria da História é representado no alegoria “Lamec-Ada versus Lamec-Sela” (época final do mercado bipolarizado entre o Vale e o Delta). Notem que na Verificação Empírica, o autor além de representar os cerca de 130 anos do Pré-dinástico recente, na figura do Lamec bígamo (Lamec pegou duas mulheres, uma chamada Ada e outra Sela (Gn 4, 19), o referido autor representou esse mesmo período, também, nos 130m anos do personagem “segundo Adão” (cf. Gn 4, 25; 5, 3). O autor resumiu na figura do “segundo Adão” (cf. Gn 4, 25; 5, 3),  os 130 anos do Pré-dinástico recente, com o objetivo de mostrar este período como ponto de partida para o estágio da divisão social do trabalho subsequente, que se inicia com “Set”, a primeira escala imperial de expansão do Grande Mercado. Assim, teve início o eixo sincrônico e diacrônico de expansão do Grande Mercado. O autor encerrou no “livro da história da família de Adão, todo o processo que teve como ponto de partida o “segundo Adão” (cf. Gn 4, 25; 5, 3), mas que se iniciou com Set, e seguiu expandindo até ao terceiro Lamec em (cf. Gn 5, 28), e que a seguir adentrara na longa fase depressiva Noé.

    Na primeira parte (Sistematização Teórica) da Teoria da História, a metáfora dos “animais” (Cf. Gn 1, 20-25) trata-se de hermética codificação referente às instituições sociais criadas pelos indivíduos, tanto aquelas que estes ainda podem dominar e controlar; como aquelas outras que subordinam os seus criadores e transcorrem na sócio-história à revelia deles. A segunda parte (Gn 2, 4-b-25; 3-10) da Teoria da História consiste numa “Verificação Empírica”.

    Na “Sistematização Teórica” (primeira parte da Teoria da História), a alegoria dos “animais” (Cf. Gn 1, 24-25) indica tanto a geração como a reprodução dessas instituições coletivas no campo “terra”, ou seja, no campo das relações sociais de produção. Essas instituições podem ser concebidas segundo diversas categorias. Podemos citar algumas delas.

    Instituições coletivas da categoria “animais domésticos”, isto é, instituições sociais passíveis de serem controladas pelos seus indivíduos membros (ex: agricultura familiar; manufatura individual, pequeno fabrico, etc.).

    Instituições coletivas da categoria “répteis”, isto é, pequenas e sobretudo grandes instituições coletivas hierarquizadas de natureza cultural ideológica. As quais têm como base as relações sociais de produção (abismo da terra), e que se desenvolvem de modo estreitamente condicionado por esta sua base, mas que emergem como superestruturas no campo do conhecimento ideológico. As grandes instituições-répteis são representadas como as “trevas” (dos “céus”, isto é, do campo do conhecimento ideológico), por exemplo: instituições hierarquizadas da espécie religiosa (a Igreja; as religiões protestantes ou evangélicas, as religiões islâmicas; as religiões hinduístas; as religiões budistas, etc.); da espécie político-ideológica (partidos políticos de orientação neoliberal; de orientação marxista, etc.); etc. As pequenas instituições dessa ordem podem ser controláveis pelos seus indivíduos membros; as grandes não.

    Instituições coletivas da categoria “animais selvagens”, isto é, instituições coletivas vorazes, que subordinam e exploram os indivíduos até extenuar as respectivas forças de trabalho destes, por exemplo, o próprio Grande Mercado (monstro marinho) consiste num “animal selvagem” (instituição coletiva voraz e “indomesticável”), conforme Marx e Engels observam:[2]

    “… como acontece ainda que o comércio, que não obstante representa a troca dos produtos individuais e das nações diferentes, e nada mais, domine o mundo inteiro pela relação entre a oferta e a procura – relação que, segundo um economista inglês, paira sobre a terra como a fatalidade antiga e distribui, de mão invisível, a felicidade e a infelicidade entre os homens, funda impérios e os aniquila, faz nascer e desaparecer povos (…) Na realidade, na história antiga, é fato perfeitamente empírico que, com a extensão da atividade ao plano da história universal, os homens se tornaram cada vez mais sujeitos a uma força que lhe é estranha – opressão que tomavam por uma manifestação do que se chama Espírito do Mundo -, força essa que se tornou cada vez mais maciça e que, em última análise, revelou-se como o mercado mundial”.

    Outro exemplo de “animal selvagem” se trata da instituição do poder social das forças produtivas multiplicadas, (que nasce da cooperação de vários indivíduos condicionados pela divisão do trabalho e pelo mercado). Neste sentido, Marx e Engels dizem:[3]

    “O poder social, ou seja, a força produtiva multiplicada, que nasce da cooperação de vários indivíduos condicionados pela divisão do trabalho, não se apresenta a esses indivíduos como sua própria força, força da união, porque tal cooperação mesma não é voluntária, mas natural. Ela lhes parece, ao contrário, uma força estranha situada fora deles, de cuja origem e fim nada sabem, que não podem mais dominar e que, ao contrário, passa por uma sequência particular de fases e estágios de desenvolvimento tão independente da vontade e da marcha da humanidade que na verdade dirige essa vontade e essa marcha. Tal alienação, para usarmos uma expressão inteligível aos filósofos, não pode ser naturalmente abolida, senão depois de satisfeitas duas condições práticas. Para que ela se torne uma força ‘insuportável’, isto é, uma força contra a qual os homens vão à revolução; é necessário que tenha feito da massa da humanidade uma massa totalmente ‘destituída de propriedade’, que se encontra, ao mesmo tempo, em contradição com um mundo existente de riqueza e da cultura, coisas que supõem, ambas, um grande aumento do poder produtivo, ou seja, uma fase adiantada de seu desenvolvimento. Por outro lado, esse desenvolvimento das forças produtivas (que já implica a existência real de homens no plano da história mundial, ao invés de transcorrer no plano da vida local), esse desenvolvimento das forças produtivas é uma condição prática preliminar absolutamente indispensável, pois sem ela é a penúria que se tornaria geral, e, com a necessidade, e também a luta pela subsistência que recomeçaria, e voltaríamos fatalmente à velha carência”.

    Enfim, na Verificação Empírica, o simbolismo dos animais focalizados dois a dois de cada espécie, isto é, como casais, teve por objetivo representar, alegoricamente, a possibilidade mínima necessária para a reprodução das supracitadas formas de instituições sociais coletivas, que tais animais representam. O signo “mulher“ (as dos filhos de Noé) sempre representa as forças produtivas e os respectivos segmentos trabalhadores. O símbolo “barca” (de Noé) será mais bem entendido mais adiante, quando decifrarmos mais detalhadamente os signos “dilúvio” e “águas”. Note, o elaborador da teoria da genealogia de Adão focaliza a “salvação” (preservação) de várias ordens de fenômenos sociais. Por exemplo: o próprio Noé (processo de depressão do grande mercado global); a “mulher” de Noé (forças produtiva ou segmentos trabalhadores, no contexto Noé), os três filhos de Noé (as três configurações espaciais em que o grande mercado global estava se fragmentando); as “mulheres” (segmentos trabalhadores) dos “três filhos” de Noé; “tudo que tenha vida debaixo dos céus”, isto é, nas “águas” ou universo sócio-cultural, em que “pululam uma multidão de seres vivos” ou milhões de processos de interação, e as “aves dos céus”. Notem, ainda, que as “águas” geram, também, os “peixes” (instituições comerciais), sobretudo os “monstros marinhos” (mercados macro-regionais e o grande mercado global), mas estes são omitidos, porque estão fora da “barca da salvação”, pois estão no auge da crise e da depressão diluviana. Estão nas “águas” violentamente agitadas, sobre as quais a barca flutua. Entram ainda na “arca” e são preservados de modo reduzido, isto é, como que “casais“ os grupos ou instituições coletivas geradas no campo ”terra”: “animais domésticos”, “répteis”, etc. O elaborador da Teoria da História procede, assim, recorrendo à teoria da geração e reprodução das instituições sociais coletivas, registrada de modo alegórica na Teoria da História, na parte que chamamos de “sistematização teórica” (Cf. Gn 1, 25).

    Na sequência do texto referente ao sexto dia da criação, o autor atribui a Deus, ainda, dizer que o indivíduo humano (tanto masculino como feminino) é estruturalmente homólogo ao Deus Criador. O qual é concebido como totalidade social e sujeito estruturado, e apresenta, entre outros, dois aspectos principais.[4]

    Por um lado, a “Mãe Trevas” (entidade coletiva feminina da divindade) atua no sentido de interditar a possibilidade do Espírito Santo masculino ou Pai (entidade coletiva masculina da mesma divindade) se hipostasiar  com sua base “águas” (povos, nações, multidões e respectivas línguas (cf. Ap 17, 15). Assim, a Mãe Trevas mantém o Espírito Pai de Deus como que pairando ou alienado de sua base “águas”.

    Por outro lado, o Espírito Santo do Pai atua no sentido de se hipostasiar com sua base “águas“. O autor atribui, por fim, ao Deus Criador (Trabalho Natural-social), a condição de impelir o indivíduo humano, a atuar na direção contrária a Mãe trevas. E, colaborar com o Pai, no sentido de “reinar” (romper a alienação e dominar) sobre as instituições sociais (“peixes do mar”, “aves dos céus”, “répteis”, etc.), que o dominam e oprimem. O autor acrescenta que Deus criou e propiciou, para ser assimilado pelo indivíduo humano, dois tipos ideais de “plantas” (papéis sociais): “erva” (senso comum) e “árvore frutífera” (intelectual). Mas, às referidas instituições sociais, isto é, aos indivíduos que as integram e não se insubordinam ao domínio dela, o Criador propiciou apenas o papel social tipo “erva”. Vamos ao texto:

    “Então Deus disse: ‘Façamos o homem à nosso imagem e semelhança. Que ele reine sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos e sobre toda a terra, e sobre todos os répteis que se arrastam sobre a terra’. Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher. Deus o abençoou: ‘Frutificai, disse ele, e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a. Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra’. Deus disse: ‘Eis que eu vos dou toda a erva que dá semente sobre a terra, e todas as árvores frutíferas que contêm em si mesmas a sua semente, para que vos sirvam de alimentos. E a todos os animais da terra, a todas as aves dos céus, a tudo o que se arrasta sobre a terra, e em que haja sopro de vida, eu dou toda a erva verde por alimento’. E assim se fez. Deus contemplou toda a sua obra, e viu que tudo era muito bom. sobreveio a tarde e depois a manhã: foi o sexto dia”. (Gn 1, 26-31).

[1] “Sistematização teórica” e “verificação empírica”: cf.  http://tribodossantos.blogspot.com.br/2013/03/diretrizes-teoricas-e-modo-de-exposicao.html
[2] Marx, K. e Engels, F. Ideologia Alemã, p. 32-33.
[3] Idem, p. 31. No mesmo sentido, cf. Idem, p. 70-71.

[4] http://tribodossantos.blogspot.com.br/2013/04/as-aguas-da-teoria-da-historia-primeira.html

http://tribodossantos.blogspot.com.br/2013/04/a-segunda-fase-da-formacao-da-estrutura.html